Site da disciplina 'Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo 1' do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Espirito Santo - Brasil. Responsável: Prof. Dr. Nelson Pôrto Ribeiro.
domingo, 25 de setembro de 2011
2.2. RENASCIMENTO: ARQUITETURA RELIGIOSA E CIVIL
2.1. O RENASCIMENTO E SUAS PREMISSAS
sábado, 24 de setembro de 2011
1.4. A ARQUITETURA GÓTICA RELIGIOSA: INOVAÇÕES TÉCNICAS NO CAMPO CONSTRUTIVO
1.4.1. A passagem do Românico para o Gótico: evolução tecnológica
- Viollet-le-Duc nos informa que aproximadamente 150 anos depois das primeiras grandes construções românicas estarem concluídas, quase todas apresentavam problemas de estabilidade estrutural ocasionadas fundamentalmente pelos empuxos na base das grandes abóbadas de berço ou de aresta.
- As soluções encontradas pelos construtores da época foi o contrarresto e a diminuição destas cargas com a ajuda de três novos elementos: arcos botantes que iam dos contrafortes até a base das abóbadas da nave central; arcos ogivais (ou quebrados) que por serem verticalizados ocasionavam menores empuxos que os arcos plenos; abóbadas nervuradas onde as arestas eram reforçadas (função estrutural) e as regiões intermédias construídas com material mais leve ou mais delgado.
1.4.2. O gótico e sua estética.
- Sobre o ponto de vista tecnológico o gótico foi uma continuidade ou um aperfeiçoamento do românico. A rigor, nenhuma grande inovação tecnológica foi introduzida; as três principais características estruturais do gótico – o arco ogival, o arcobotante e a abóbada nervurada – já existiam no período anterior, embora não usadas conjuntamente. As abóbadas em aresta nervurada, por exemplo, existiam desde o início do séc. XII (St. Estevão em Caen, França e a Catedral de Durham na Inglaterra).
- A novidade decisiva foi a combinação destes motivos numa nova proposta estética, visando uma movimentação de massas inertes de pedra através de um sistema nervurado de linhas de força.
- A tendência mais significativa observada foi o adelgaçar das paredes, que de espessas paredes estruturais em que as pilastras não passavam de relevo foi evoluindo no sentido de alcançar pilastras verdadeiramente robustas e ressaltadas do conjunto, e paredes quase que cumprindo uma função de fechamento.
- O desenvolvimento posterior desta tecnologia permitiu que estas paredes de ‘fechamento’ fossem sendo - na medida em que se passava todo o peso da construção para o esqueleto estrutural – retiradas e substituídas por imensos vitrais. O gótico da fase final é uma construção de pedra e vidro em que o segundo predomina largamente sobre o primeiro (Sainte Chapelle em Paris).
Sainte Chapelle - Paris
- Abóbadas ogivais passam a cobrir vãos de diversos tamanhos; os contrafortes substituíram as grossas muralhas entre as capelas radiais que agora constituem, ao redor do deambulatório, uma franja ininterrupta e ondulante.
- As paredes laterais desaparecem, a tendência é o adelgaçar das colunas da arcada e maior altura em relação à largura da nave, relações que vão de 1 : 1,4 em Sens até 1 : 3,4 em Beauvais. A altura em Noyon é de 26m, em Paris de 35m, em Beauvais 48m. Graças ‘a extrema delicadeza de todos os componentes, o impulso vertical é tão irresistível quanto o era o impulso horizontal no eixo leste-oeste das igrejas paleocristãs e românicas.
- Na segunda metade do século XII o gótico primitivo transforma-se em gótico clássico. As igrejas góticas deste século são contemporâneas das igrejas românicas tardias, tais como Autun, Vezelay e St. Savin Sur Gartempe etc... O gótico tardio virá no século XIII.
- O gótico tardio é essencialmente distinto do gótico clássico das grandes catedrais francesas como Paris e Amiens e das inglesas como Lincoln e Salisbury (em especial em termos de volume e de estrutura).
1.4.3. O gótico e a cultura medieval.
- A catedral como uma enciclopédia medieval do saber, onde estão presentes as figuras do Antigo e do Novo Testamento, onde estão representadas as histórias da Paixão de Cristo, o Juízo Final, a Ascensão da Virgem, além da história dos reis e também as histórias prosaicas do cotidiano do camponês; a poda das árvores, a tosquia dos carneiros, a colheita, a matança dos porcos e também os signos do Zodíaco, os quatro elementos da natureza, as sete artes liberais, os meses do ano personificados, e até mesmo as Sibilas pagãs, por que delas dizia-se que teriam previsto o nascimento de Cristo.
- Tudo na catedral gótica levava a Deus e a seu filho: Jonas é representado não apenas por ter pertencido ao Antigo Testamento mas porque representa uma prefiguração do Cristo, e os três dias que passou no ventre da Baleia e o seu resgate, representam a ressurreição do Cristo. Para a cultura da Idade Média, tudo era símbolo a ser interpretado.
- As relações da Catedral com a escolástica clássica. A razão mística determinando a planta e a distribuição dos espaços: a hierarquia dos tramos que compõe transepto e nave central em relação aos tramos das naves laterais; a compacidade da planta obtida em Notre Dame de Paris; a inscrição do labirinto místico no piso do transepto etc...
- O final da Idade Média é marcado pela substituição da arte estilizada do românico pelo naturalismo gótico.
Bibliografia:
PANOFSKY, Erwin. Architecture gothique et pensée scolastique, precedé de L'abbé Suger de Saint-Denis. Paris, Minuit, 1967.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo, Martins Fontes, 1982.
VIOLLET-le-DUC, Eugène E. Construire au Moyen Age. (Dictionnaire Raisonné de L’Architecture Française du XIe au XVIe siécle. Tome IV. Réedition des pages 1 à 279 de ce volume). (s/l) : Heimdal, 2002.