domingo, 25 de setembro de 2011

2.2. RENASCIMENTO: ARQUITETURA RELIGIOSA E CIVIL

OBS: O texto abaixo não tem pretensão autoral. Trata-se de notas e ‘fichamentos’ de partes da Bibliografia referenciada em seguida e que foram feitos apenas com caráter didático.

2.2.1. Modelos da primeira arquitetura religiosa do Renascimento.


- Antes de remeter a um modelo da Antiguidade latina, as primeiras obras do Renascimento, de autoria de Brunelleschi e de Alberti, remontam aos modelos do proto-renascimento toscano; Igreja de São Miniato al Monte ou ao Batistério da catedral de Florença.
- Estas primeiras igrejas tinham plano longitudinal em cruz latina, coroadas por cúpula.
- A idéia de um plano centrado coroado por cúpula, oriunda da igreja do oriente (Bizâncio), parece ter permeado a arquitetura do Renascimento através de modelos como San Vitale em Ravena (Ravena era uma cidade bizantina em território italiano).
- Um modelo impressionante para os arquitetos florentinos foi a cúpula de Santa Sofia, em Constantinopla. Não é um plano centrado sob o estrito sentido da palavra, mas trata-se de uma igreja que marcou todo o desenvolvimento das igrejas de plano centrado pela sua magnificência.
2.2.2. As primeiras obras religiosas.
- A cúpula de Santa Maria Del Fiori (c. 1435) de Brunelleschi. Os historiadores costumam considera-la como a primeira grande obra do Renascimento, uma enorme cúpula construída por sobre o cruzeiro de uma igreja medieval, que foi objeto de admiração de todos os seus contemporâneos. A cúpula é um verdadeiro milagre técnico do Renascimento, pois foi construída sem cimbre dado a impossibilidade técnica de se fazerem cimbres com aquelas dimensões. Segundo Alberti, a intenção era de representar naquela cúpula o infinito da abóbada celeste. A importância simbólica desta cúpula é tanta, que a partir dela, a palavra Duomo que em italiano significa cúpula, passou a designar catedral.


- São Lourenço (1421-69) Brunelleschi. A construção foi tantas vezes interrompida, que o interior só ficou acabado 20 anos após a morte do arquiteto e o exterior ficou inacabado. Embora remeta aos planos das igrejas medievais com transepto, a originalidade está na rigorosa simetria que trabalha com o simbolismo do número quatro, que une a materialidade do mundo (quatro pontos cardeais) à espiritualidade do Paraíso com seus quatro rios, pois quatro quadrados grandes formam a capela-mor, o cruzeiro e os braços do transepto; outros quatro constituem a nave; outras ainda, com um quarto do tamanho constituem as colaterais e as capelas ligadas ao transepto (as capelas oblongas fora das naves laterais, não pertencem ao traçado original).

- São Francisco – Rimini (c. 1454) Alberti. A primeira obra eclesiástica de Alberti, a adaptação de uma antiga igreja medieval para Panteão da família Malatesta. Para o desenho da fachada se inspirou no antigo motivo romano do Arco do Triunfo, tal como o Arco de Septimo Severo em Roma. Nas laterais, ao dispor sarcófagos com inscrições ao estilo clássico, debaixo de arcos romanos, Alberti criou um impressionante Panteão para heróis, mais do que um cemitério medieval, que era o hábito nas laterais das igrejas. O interior da igreja era medieval.


- Santa Maria Novella (c. 1456) Alberti. Outra igreja medieval que Alberti recuperou. Porém, aqui a solução de São Francisco não era possível – o recobrimento do antigo edifício mediante uma fachada totalmente nova e independente – pois a fachada de Santa Maria estava de pé e havia que conservar alguns de seus elementos tais como as portas laterais com seus arcos quebrados, a alta arcada cega e a janela circular do piso superior. Embora a primeira vista a fachada nos pareça peculiarmente paradoxal, Alberti teve muito sucesso em conciliar o antigo com o novo estilo e sua fachada tornou-se um dos grandes tipos do Renascimento. Todos os elementos novos introduzidos por Alberti na fachada – as colunas, o frontão, as volutas e o ático de transição – foram fundamentais para a harmonia geral do prédio. Um único sistema de proporções define as dimensões de cada elemento e de cada detalhe, a fachada inteira se inscreve em um quadrado. Outro quadrado, cujo lado mede a metade do quadrado
grande, define a relação entre os dois pisos, o piso inferior pode dividir-se em dois destes quadrados pequenos (incluindo o ático) enquanto o piso superior em apenas um centralizado (incluindo o frontão). As mesmas proporções, 1 : 1 e 1 : 2, se repetem nas sub unidades de cada um dos pisos. A fachada desta igreja, vai ser muito importante para o maneirismo (Vignola) e em especial para o barroco jesuítico brasileiro.
2.2.3. O plano centrado.
- Leonardo da Vinci: nos desenhos do mestre se mostra todo o possível desenvolvimento do quadrado e do círculo, desde a configuração mais simples até a mais completa. A criação que mais parece se aproximar do ideal de Leonardo é a igreja de Santa Maria della Consolazione, em Todi. O tratamento do espaço renascentista se distanciou do conceito da baixa Idade Média de organismo urbano vivo para orientar-se até um ideal de perfeição formal pura.

- Santa Maria delle Carceri (1485) de Giuliano da Sangallo. É a primeira igreja de cruz grega do Renascimento erigida sobre uma planta que combina de maneira ideal as aspirações centralizadoras da época (inscrever a planta num círculo) com a referência simbólica à cruz do Cristo. As relações são simples, a profundidade dos braços é igual à metade da largura, e as quatro paredes que delimitam a cruz, são quadrados. O cruzeiro é coroado por cúpula.

São Pietro in Montorio (Tempietto - 1502) de Bramante. Pequena capela situada no claustro de um convento, construído no local onde se julgava, São Pedro teria sido crucificado. Função de martiryum portanto, e não de ecclesia. Esta estrutura circular era para Palladio (um dos maiores arquitetos e teóricos do Maneirismo), o edifício que demonstra com maior perfeição “a unidade, a essência infinita, a uniformidade e a justiça de Deus”.
2.2.4. Os primeiros palácios.
- Palazzo Médici-Riccardi (Michelozzo – 1444). É o primeiro dos grandes palácios da aristocracia florentina. De acordo com Tafuri, o novo palácio renascentista corresponde a uma profunda mudança social que desvanecer o clã medieval para dar lugar a família mononuclear. A construção ainda conta com um aspecto um tanto militar, sólida como uma fortaleza medieval, com um pesado tratamento rusticado que toma conta dos 02 primeiros pavimentos. As janelas simetricamente dispostas são divididas em duas (geminadas), tal como as janelas românicas. A leitura que já começa a se delinear através das fachadas é a de uma construção em que o primeiro piso é destinado aos serviços, o segundo piso atende às funções sociais (piano nobile) e o terceiro piso é o da vida íntima.
- Palazzo Rucellai (1446) construído por Alberti para o mesmo patrono da fachada de S. Maria Novella. O arquiteto empregou pela primeira vez, pilastras na composição da fachada, que junto com as cornijas intermediárias, fazem uma divisão da fachada em painéis retangulares. As ordens se sucedem; dórico no térreo, jônico no intermediário e coríntio no andar de cima, ainda nada nesta fachada realça um andar superior em detrimento do outro, como vai acontecer mais tarde.
Bibliografia:
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte italiana. (03 vol.) São Paulo : Cosac & Naif, 2003.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo, Martins Fontes, 1982.
TAFURI, Manfredo. Sobre el renacimiento: principios, ciudades, arquitectos. Madrid : Cátedra, 1995.

2.1. O RENASCIMENTO E SUAS PREMISSAS

OBS: O texto abaixo não tem pretensão autoral. Trata-se de notas e ‘fichamentos’ de partes da Bibliografia referenciada em seguida e que foram feitos apenas com caráter didático.


Cronologia:
1420-1500: Primeiro Renascimento.
1500-1520: Alto Renascimento.
1520-1600: Maneirismo.
2.1.1. Condições sócio-econômicas para o surgimento do Renascimento em Florença:
- Florença Cidade-Estado, governo autônomo que, como no caso de outras cidades da Itália setentrional, adquiriram sua independência frente ao Sacro Império Romano Germânico após uma luta árdua finalizada pela Paz de Constância, em 1183.
- República comerciante, que manteve os vínculos - através de Veneza e de Genova – com os portos do oriente como Constantinopla.
- Presença de grandes famílias cuja riqueza têm a sua base no comércio e no capital bancário (Peruzzi, Médici, Pitti, Rucellai, Strozzi) e dispostas a investir em artes (mecenato).
2.1.2. Características formadoras da cultura renascentista em Florença:
- Em Florença jamais floresceu um verdadeiro estilo gótico, o românico, de caráter clássico sempre predominou.
- Os primeiros modelos dos arquitetos do Renascimento eram construções românicas como San Miniato al Monte (1018) e o Batistério da Catedral, que os florentinos à época julgavam pertencer a épocas mais remotas do que verdadeiramente eram.
- Proximidade com as ruínas e os fragmentos da Antiguidade latina. Proximidade com Roma.
- Importância do mecenato e grande concentração de potenciais mecenas para uma cidade tão “pequena”. O mecenas nobilitava a si e a sua ascendência através de uma arte com caráter propagandístico.
- Uma geração de artistas notáveis que nenhuma época posterior conheceu igual.
- O desenvolvimento da filosofia e das ciências através do contato com outras culturas e em especial com as tradições orientais e clássicas: cultura árabe proveniente do contato comercial (os árabes guardaram textos clássicos como os de Aristóteles); cultura bizantina proveniente da migração de sábios e artistas após a queda de Constantinopla (herdeira do Império Romano do Oriente); cultura judaica proveniente da migração de sábios judeus expulsos por Isabel a Católica da Península Ibérica (diáspora ibérica).
2.1.3. Mudança de mentalidades: a arte e a ciência.
- Nascimento da ciência no início da Idade moderna, baseada na observação e no empirismo.
- A concepção de um mundo em que o saber é aberto, apto a sofrer sempre acréscimos (Renascimento) em oposição a um mundo em que o saber era fechado, onde acreditava-se que tudo que havia para ser sabido já o era (Idade Média).
- A consciência do ser histórico. O encarar de modo histórico as sociedades do passado: a alteridade e a idéia de evolução. A busca por uma nova relação com a antiguidade, Petrarca e a busca pelos textos originais.
- Teísmo medieval (tudo girando em torno do Cristo-Mártir) versus antropocentrismo do Renascimento (o homem no centro do mundo como obra suprema de Deus).
- A matematização das relações espaciais. As relações numéricas da tetraktis de Pitágoras como a base da harmonia do cosmos universal. A matemática presente na estrutura do Universo (macrocosmos) refletindo-se na estrutura da cidade e do templo (microcosmos).
- A nova percepção do espaço – a Perspectiva (descoberta por volta de 1425).
- A arquitetura e o urbanismo renascentista expressando as crenças na correspondência entre micro e macrocosmos, na estrutura harmônica do Universo (harmonia das esferas), na compreensão de Deus através dos símbolos matemático-geométricos de centro, círculo e esfera. O plano centrado na arquitetura religiosa como expressão da perfeição divina.
- Deus mártir (Cristo crucificado) como expressão religiosa medieval que levou ao plano cruciforme versus o Deus Pantocrátor (Cristo Emanuel) adotado pelo Renascimento da igreja do Oriente, o Deus que vela onipotente e protetor sobre sua criação e cuja expressão arquitetônica é o plano centrado coroado por cúpula.
Bibliografia:
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo, Martins Fontes, 1982.
WITTKOWER, Rudolf. Los fundamentos de la arquitectura en la edad del humanismo. Madrid, Alianza, 1995.

sábado, 24 de setembro de 2011

1.4. A ARQUITETURA GÓTICA RELIGIOSA: INOVAÇÕES TÉCNICAS NO CAMPO CONSTRUTIVO



1.4.1. A passagem do Românico para o Gótico: evolução tecnológica


- Viollet-le-Duc nos informa que aproximadamente 150 anos depois das primeiras grandes construções românicas estarem concluídas, quase todas apresentavam problemas de estabilidade estrutural ocasionadas fundamentalmente pelos empuxos na base das grandes abóbadas de berço ou de aresta.

- As soluções encontradas pelos construtores da época foi o contrarresto e a diminuição destas cargas com a ajuda de três novos elementos: arcos botantes que iam dos contrafortes até a base das abóbadas da nave central; arcos ogivais (ou quebrados) que por serem verticalizados ocasionavam menores empuxos que os arcos plenos; abóbadas nervuradas onde as arestas eram reforçadas (função estrutural) e as regiões intermédias construídas com material mais leve ou mais delgado.

1.4.2. O gótico e sua estética.



- Sobre o ponto de vista tecnológico o gótico foi uma continuidade ou um aperfeiçoamento do românico. A rigor, nenhuma grande inovação tecnológica foi introduzida; as três principais características estruturais do gótico – o arco ogival, o arcobotante e a abóbada nervurada – já existiam no período anterior, embora não usadas conjuntamente. As abóbadas em aresta nervurada, por exemplo, existiam desde o início do séc. XII (St. Estevão em Caen, França e a Catedral de Durham na Inglaterra).




- A novidade decisiva foi a combinação destes motivos numa nova proposta estética, visando uma movimentação de massas inertes de pedra através de um sistema nervurado de linhas de força.

- A tendência mais significativa observada foi o adelgaçar das paredes, que de espessas paredes estruturais em que as pilastras não passavam de relevo foi evoluindo no sentido de alcançar pilastras verdadeiramente robustas e ressaltadas do conjunto, e paredes quase que cumprindo uma função de fechamento.


- O desenvolvimento posterior desta tecnologia permitiu que estas paredes de ‘fechamento’ fossem sendo - na medida em que se passava todo o peso da construção para o esqueleto estrutural – retiradas e substituídas por imensos vitrais. O gótico da fase final é uma construção de pedra e vidro em que o segundo predomina largamente sobre o primeiro (Sainte Chapelle em Paris).

Sainte Chapelle - Paris

- Abóbadas ogivais passam a cobrir vãos de diversos tamanhos; os contrafortes substituíram as grossas muralhas entre as capelas radiais que agora constituem, ao redor do deambulatório, uma franja ininterrupta e ondulante.

- As paredes laterais desaparecem, a tendência é o adelgaçar das colunas da arcada e maior altura em relação à largura da nave, relações que vão de 1 : 1,4 em Sens até 1 : 3,4 em Beauvais. A altura em Noyon é de 26m, em Paris de 35m, em Beauvais 48m. Graças ‘a extrema delicadeza de todos os componentes, o impulso vertical é tão irresistível quanto o era o impulso horizontal no eixo leste-oeste das igrejas paleocristãs e românicas.

- Na segunda metade do século XII o gótico primitivo transforma-se em gótico clássico. As igrejas góticas deste século são contemporâneas das igrejas românicas tardias, tais como Autun, Vezelay e St. Savin Sur Gartempe etc... O gótico tardio virá no século XIII.

- O gótico tardio é essencialmente distinto do gótico clássico das grandes catedrais francesas como Paris e Amiens e das inglesas como Lincoln e Salisbury (em especial em termos de volume e de estrutura).

1.4.3. O gótico e a cultura medieval.

- A catedral como uma enciclopédia medieval do saber, onde estão presentes as figuras do Antigo e do Novo Testamento, onde estão representadas as histórias da Paixão de Cristo, o Juízo Final, a Ascensão da Virgem, além da história dos reis e também as histórias prosaicas do cotidiano do camponês; a poda das árvores, a tosquia dos carneiros, a colheita, a matança dos porcos e também os signos do Zodíaco, os quatro elementos da natureza, as sete artes liberais, os meses do ano personificados, e até mesmo as Sibilas pagãs, por que delas dizia-se que teriam previsto o nascimento de Cristo.

- Tudo na catedral gótica levava a Deus e a seu filho: Jonas é representado não apenas por ter pertencido ao Antigo Testamento mas porque representa uma prefiguração do Cristo, e os três dias que passou no ventre da Baleia e o seu resgate, representam a ressurreição do Cristo. Para a cultura da Idade Média, tudo era símbolo a ser interpretado.

- As relações da Catedral com a escolástica clássica. A razão mística determinando a planta e a distribuição dos espaços: a hierarquia dos tramos que compõe transepto e nave central em relação aos tramos das naves laterais; a compacidade da planta obtida em Notre Dame de Paris; a inscrição do labirinto místico no piso do transepto etc...

- O final da Idade Média é marcado pela substituição da arte estilizada do românico pelo naturalismo gótico.

Bibliografia:

PANOFSKY, Erwin. Architecture gothique et pensée scolastique, precedé de L'abbé Suger de Saint-Denis. Paris, Minuit, 1967.

PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo, Martins Fontes, 1982.

VIOLLET-le-DUC, Eugène E. Construire au Moyen Age. (Dictionnaire Raisonné de L’Architecture Française du XIe au XVIe siécle. Tome IV. Réedition des pages 1 à 279 de ce volume). (s/l) : Heimdal, 2002.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

1.3. A ARQUITETURA ROMÂNICA E AS GRANDES IGREJAS DE PEREGRINAÇÃO

OBS: O texto abaixo não tem pretensão autoral. Trata-se de notas e ‘fichamentos’ de partes da Bibliografia referenciada em seguida e que foram feitos apenas com caráter didático.


1.3.1. A importância da vida monástica na Idade Média.
- A importância da religião na vida cotidiana e conseqüentemente a proeminência da igreja enquanto instituição fez com que esta se cristalizasse como a mais poderosa instituição medieval, precedendo inclusive a monarquia.
- A vida monástica é importada do oriente e inicia-se na Europa nas ilhas Lérins perto de Marselha, no começo do séc. V, alcançando depois a Irlanda.
- Os mosteiros irlandeses floresceram nos séc. VI e VII. Seus missionários irradiaram o sistema monástico para as regiões das atuais Escócia, França, Itália, Alemanha e Suíça.
- As Ilhas Britânicas foram um poderoso baluarte da cultura clássica, onde esta permaneceu com uma força e uma persistência maior do que no continente, em especial por causa dos mosteiros irlandeses.
- É no interior do mosteiro onde a cultura sobrevive, seja a cultura clássica literária e filosófica que floresce nas bibliotecas monacais, seja a cultura prática que floresce nas oficinas e nos canteiros de obra dos mosteiros.
- A construção dos grandes conjuntos monacais e abaciais é a oportunidade de um reviver das técnicas construtivas que estavam em decadência desde o final do Império romano.
1.3.2. O renascer da cultura clássica.
- A Idade Média foi toda marcada por pequenas revivescências da cultura clássica antes da grande revivescência intitulada Renascimento florentino. Talvez a mais significativa destas tenha sido a renovatio carolíngia – na época de Carlos Magno, sécs. VIII e IX - responsável pela preservação de grande parte dos textos latinos originais.
- Os edifícios carolíngios remontavam aos planos da Antiguidade tardia, quando o Império já tinha se cristianizado: utilizavam o modelo basilical romano para construir grandes edificações com função de ecclesia (reunir os fiéis para a missa) ou pequenas edificações de plano centrado com função de martiryum (culto aos mártires) ou ainda como batistério.
1.3.3. O românico e as grandes abadias.
- O estilo românico parece que foi criado por volta da segunda metade do século X.
- A arquitetura românica é predominantemente monástica e rural enquanto na gótica predominam as catedrais urbanas.
- Na época do paleocristianismo foi hábito construir templos especiais (os martiryums), geralmente de planta centrada, para a veneração das relíquias dos mártires. Nas igrejas de peregrinação da Idade Média estes dois tipos antigos de templos – o longitudinal e o centrado - foram combinados num , com o uso das cabeceiras irradiantes.
- A parte oriental (cabeceiras) das igrejas românicas ordenava-se segundo dois tipos principais concebidos em França: o plano irradiante com deambulatório passando por trás do altar-mor e permitindo o acesso às absidíolas e o plano escalonado, onde capelas (absidíolas) eram posicionadas ao final de cada uma das naves laterais e algumas vezes no lado oriental das paredes do transepto.
- O plano irradiante parece ser proveniente da igreja de Saint Martin de Tours, um dos mais famosos santuários da cristandade.
- As técnicas construtivas se desenvolveram consideravelmente durante o início e o final do século do românico (séc. XI). Construir abóbadas de pedra sobre as naves das igrejas basilicais era a ambição destes construtores, tanto por uma questão estética como por uma questão de segurança contra incêndios.
- Os romanos souberam em seu tempo, como fazer abóbadas de grandes dimensões, fundindo grandes cúpulas em concreto como a do Panteon. Os construtores do ocidente, contudo, desconheciam a técnica romana do concreto e construíam, nos primeiros tempos, até meados do século XI, naves centrais estreitas com abóbadas de berço e/ou de aresta nas naves laterais. Foram estes construtores que desenvolveram a tecnologia das grandes abóbadas de aresta e depois as ogivais nervuradas.
- Os primeiros tetos planos como o da catedral de Ely foram substituídos por tetos com abóbadas de aresta como em Cluny e Speier, e abóbadas ogivais nervuradas como a de Durham.
- Em Cluny II - na abadia reconstruída do final do séc. X - aparece pela primeira vez o plano escalonado na cabeceira oriental onde as naves laterais são prolongadas terminando em pequenas absides. A reconstrução de Cluny no início do séc. XII (Cluny III) como o mais grandioso mosteiro da Europa, introduzia as primeiras abóbadas de aresta e a cabeceira era do tipo irradiante.
Bibliografia.
PANOFSKY, Erwin. Renascimento e renascimentos na arte ocidental. Lisboa, Presença, 1981.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da arquitetura ocidental. São Paulo, Martins Fontes, 1982.