quinta-feira, 18 de agosto de 2011

1.1. A CIDADE NA ANTIGUIDADE.

OBS: O texto abaixo não tem pretensão autoral. Trata-se de notas e ‘fichamentos’ de partes da Bibliografia referenciada em seguida e que foram feitos apenas com caráter didático.

1.1.1. A cidade no oriente próximo.
- Houve grandes aglomerações urbanas no passado; os arqueólogos falam de aldeias de pescadores construídas sobre palafitas com mais de 200.000 habitantes. Estas aglomerações, contudo, não eram cidades.
- A cidade surgiu no oriente por volta de 3000 AC: na Mesopotâmia e nos vales do Nilo e do Indo.
- O nascimento da cidade significou uma oposição entre cidade e campo: excedente suficiente de produtos agrícolas e animais para abastecer a cidade; submissão do campo ao poder local centralizado na cidade; e valoração da artesania (produzida na cidade) sob os produtos agrícolas (produzidos no campo).
- No urbanismo egípcio as necrópoles parecem ter se desenvolvido dentro do rigor de um plano pré-concebido - tal como Karnak (Tebas) - enquanto a cidade dos vivos apresentava um desenvolvimento ‘orgânico’ e ‘espontâneo’.
- Korsabad, na Assíria, apresentava plano pré-concebido com grandes eixos ortogonais e onde as imponentes avenidas retilíneas parecem demarcar percursos processionais (militares e/ou religiosos) onde o déspota divino era glorificado.
- O palácio – residência do déspota divino - como elemento central do tecido urbano da cidade oriental e que, no caso de Dur Sharrukin (Korsabad), incluía residências, templos e zigurates.

Fig. 01. Korsabad e o palácio de Sargão II (Dur Sharrukin).



1.1.2. A polis e a democracia.
- A polis é uma invenção grega que surge por volta do século VII AC, e que significa antes de tudo, a preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder. Na pólis, a palavra-lei do déspota divino da cidade oriental é substituída pelo debate e pela argumentação necessários à democracia, a qual se dá no espaço público da Ágora.
- O sistema educacional grego (paidéia) dava especial valor à retórica e à sofística, artes do discurso, do convencimento e da persuasão.
- Os gregos tinham a política como a mais alta atividade do cidadão (eupátrida), no qual a filosofia, as artes e o esporte, não vinham que a assessorar o indivíduo na sua formação e a cumprir com eficiência o seu papel político de cidadão.
- O grego valorizava o espaço público sobre o privado e na sua concepção era neste primeiro em que a vida tomava toda a sua plenitude: liberdade, realização, honra e heroísmo. Contudo, apesar de desprezado por ser local predominantemente feminino, o espaço privado era também local de importantes atividades que deveriam ser ocultas, tal como o culto familiar. Esta concepção traduzia-se no traçado da polis pelo fato do espaço público predominar em organização e amplitude sobre o espaço privado.
- Para o grego, o que elevava a aglomeração urbana ao status de cidade era a presença física dos espaços públicos e de suas instituições (Ágora, Prefeitura, Anfiteatro, Ginásio, Academia, Termas, Praça de Mercado etc). Nesse sentido, para ele, apenas a cidade grega era polis. O grego depreciava a cidade oriental.
- Para Aristóteles a polis era o espaço por excelência da formação do homem enquanto humano: “Quem não é capaz de participar da vida citadina ou não necessita dela, não se pode dizer que seja propriamente um homem, mas sim um animal ou um deus”. Nessa frase, é claro o sentido do homem enquanto um animal gregário, mas mais ainda, a polis aparece como elemento fundamental para a formação do homem e para a sua elevação de homem besta em homem humanus.
- Na cidade do período heróico o partido foi fundamentalmente acropólico, com a residência fortificada do rei (basileus) no topo, junto com o templo religioso. Na cidade clássica (polis), a cidade propriamente dita desce da Acrópole e esta última torna-se local de culto, onde se situam os mais importantes templos, aqueles dedicados às divindades políadas.
- A partir da reconstrução de Mileto em 494 AC - após as guerras pérsicas - o plano ortogonal em tabuleiro xadrez parece generalizar-se pelo mundo helênico. Mileto inclusive, tinha uma distribuição funcional do espaço que era dividido em uma zona residencial, uma zona civil e uma zona religiosa. Tinha também dois ágoras, separando o espaço público da cidadania do espaço público comercial.
- O grego não concebia que a democracia pudesse ser exercida em cidades muito grandes, pois isso impossibilitaria a participação direta através de assembléias. O ideal populacional portanto era entre dez a vinte mil habitantes, a partir de então a tendência era fracionar a cidade com parte dos cidadãos migrando para formar uma colônia.

Fig. 02. Centro cívico de Mileto com os seus dois ágoras (13 e 24)





1.1.3. A cidade romana.
- A cidade romana, tal como a cidade grega, era fruto de concepções místicas e religiosas que se exprimiam no espaço, fosse enquanto forma ou orientação. O espaço, para o homem de religiosidade tradicional, é sempre impregnado de valores simbólicos e religiosos, seja ele o espaço da cidade, o do templo ou mesmo o da casa.
- O ritual romano de fundação da cidade envolvia procedimentos religiosos complexos como a leitura dos augúrios, a consagração do perímetro das muralhas com a charrua sagrada (arado) e também com a escavação de uma fossa (mundus) em geral situada no cruzamento do cardus com o decumanus e que era local de culto aos antepassados mortos.
- As cidades romanas fundadas ao longo do Império tinham traçado regular e ortogonal, direcionado de acordo com os pontos cardeais. O decumanus maximus no eixo norte sul, e o cardus no eixo leste oeste, eram os eixos principais. Estes dois eixos definiam as quatro portas principais da cidade e em geral, o local onde se cruzavam era o escolhido para a construção do forum romano. Estes eixos principais funcionavam comos geratrizes das demais ruas que corriam de forma a criar uma malha quadriculada.
- O forum romano, que tinha função similar a ágora grega, era local de culto às divindades da cidade e de reunião dos cidadãos.

Fig. 03. Xantem. A cidade, de colonização tardia (nas margens do Reno) se desenvolveu de acordo com um plano reticulado simétrico.



1.1.4. A casa pátio.
- A casa pátio parece ter sido uma constante nos povos indo-europeus, particularmente naqueles que habitaram a região que vai do vale do Indo até a bacia do Mediterrâneo.
- A casa pátio é fundamentalmente uma casa vernácula: edificações unifamiliares que ocupam a periferia do lote (geminadas), fechadas para o exterior tendo
em geral apenas um vão de entrada. A casa-pátio é aberta para um pátio interno e central por onde se faz a circulação para os cômodos e que serve, ao mesmo tempo, de área de iluminação e aeração, de local de convívio e de local de culto.
- A casa-pátio é a expressão do espaço privado de uma sociedade que tem como base a família (génos entre os gregos), e cujo chefe é não apenas um patriarca (pai e chefe da prole) como também o líder da religião familiar, do culto doméstico aos lares e penates. Cada família tinha o seu culto e os seus deuses próprios, sendo este culto vedado aos estranhos.
- Essa predisposição em planta da casa-pátio, fechada para dentro de si mesma, parece configurar o pátio interno como locus privilegiado para o culto doméstico, cerrado para o estrangeiro e aberto aos deuses celestes, local onde era possível o contato entre os níveis. Talvez por isso os arqueólogos tenham encontrado tantos vestígios de aras (altares de sacrifício) no centro destes pequenos pátios.
- A casa-pátio mantém o seu esquema básico na domus patrícia romana, embora esta apresente programa mais erudito e sofisticado do que o da casa grega vernácula.

Fig. 04. Casa-pátio em Delos. Séc. II e III.



1.1.5. A cidade vernácula.
- Arquitetura e cidade vernácula são aquelas diretamente relacionadas às tradições regionais e culturais de uma determinada comunidade. De acordo com Rudofsky, trata-se de uma arquitetura sem arquitetos, ou, mais precisamente, de arquitetura feita sem especialistas.
- Arquitetura vernácula e patrimônio. Arquitetura vernácula está sempre vinculada a tradições culturais de uma determinada comunidade (memória cultural e visual), tradições por sua vez que estão intrinsecamente relacionadas às condições regionais materiais e ambientais.
- Arquitetura vernácula e sustentabilidade. Embora o conceito de sustentabilidade seja recente, ele pode ser estendido à arquitetura vernácula, pois ela é fundamentalmente feita com materiais recicláveis fornecidos pela natureza e sem grandes incrementos de beneficiamento.
- A cidade vernácula tem o aspecto – coloração e textura - da região na qual é construída, pois usa os mesmos materiais que afloram á superfície do solo. Ela se adéqua mimeticamente à região.
- A cidade vernácula incorpora padrões comunitários de organização do espaço tais como: traçado urbano irregular; praça central com poço de abastecimento de água; ruas porticadas e/ou cobertas; residências similares em escala, volumetria e tratamento de fachadas (inclusive coloração).

Bibliografia:
ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de Janeiro : Forense, 2009.
BENÉVOLO, L. História da cidade. São Paulo, Perspectiva, 1983.
___. A cidade na história da Europa. Lisboa : Editorial Presença, 1995.
COULANGES, Fustel de. A cidade antiga. Martins Fontes.
DELFANTE, Charles. A grande história da cidade. Lisboa : Instituto Piaget, [s/d].
RUDOFSKY, Bernard. Architecture without architects. London : Academy Editions, 1981.
RYKWERT, Joseph. A idéia de cidade. São Paulo : Perspectiva, 2006.
VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. São Paulo : Difel, 1984.

Um comentário:

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